COLUNA DO SAADI


É INACEITÁVEL

Terça-feira, 10/12/2024, 14h12min - Foto: Divulgação
É INACEITÁVEL

Imagine você, gremista, contando a história do Grêmio para um gringo que não conhece o clube. Tenho certeza de que, em poucos segundos, você vai mencionar Renato Portaluppi. Ele não é maior que o Grêmio, mas o ponto mais alto que esse clube já alcançou teve o camisa 7 carregando nossas três cores em Tóquio. E ele voltou para nos conduzir ao penta da Copa do Brasil e ao tri da América após anos de jejum. Então você pode repetir ao gringo que Renato não é maior que o Grêmio, mas é impossível negar que ele é, de longe, o ser humano vivo que mais fez pelo clube.

Se isso tivesse acontecido em um clube europeu, Renato seria venerado de forma quase insuportável. Na Europa, especialmente na Inglaterra, onde vivi por um bom tempo, há um respeito muito maior por quem constrói histórias como a de Renato, mesmo que essas trajetórias tenham altos e baixos. Por lá, entende-se que eles são humanos e sujeitos a erros, como todos nós. No Brasil, infelizmente, a realidade é outra. Somos um país onde a educação é precária, começando pelos nossos políticos, e essa falta de respeito permeia diversas camadas da sociedade e é amplificada pelas redes sociais.

Em 2024, o ano da maior tragédia da história do Rio Grande do Sul, parte da nossa torcida escolheu atacar Renato de forma grosseira. Isso é imperdoável. Criaram uma rivalidade artificial entre quem gosta e quem não gosta dele. Se eu tento explicar isso para um gringo, é difícil fazê-lo entender. Imagine dizer que nossa torcida se divide entre "pró" e "contra" o cara que nos deu o título mais importante e ainda voltou para conquistar outros? Algo assim não entraria na cabeça de um torcedor do United ou do Liverpool. A saída de Renato é necessária, mas a falta de respeito que se viu não é aceitável. Prefiro acreditar que essa postura vem de uma minoria.

É triste como falhamos enquanto sociedade e, nesse caso, como torcedores, ao permitir que esse tipo de divisão ganhasse força. Somos todos gremistas, e a história do Grêmio não pode ser contada sem Renato. Ele não é maior que o clube — ninguém é —, mas nenhum outro fez o Grêmio chegar tão longe quanto ele. Mesmo que alguns não consigam enxergar isso, Renato é nosso, e sempre será. O ídolo sai, mas a estátua e o legado ficam, porque o que ele fez jamais será apagado.

César Augusto Saadi
Jornalista Esportivo



A LIÇÃO DE 2024

Segunda-feira, 02/12/2024, 18h12min - Foto: Divulgação
A LIÇÃO DE 2024

A vitória por 2 a 1 sobre o São Paulo, no último fim de semana, simboliza o fim de um ano desafiador para o Grêmio. Embora a temporada 2024 ainda tenha dois jogos restantes, a permanência na Série A já garante nosso alívio. Foi um ano complicado, marcado pela enchente que afastou o time da Arena por boa parte do campeonato, afetando logística e rendimento. Ainda assim, o Grêmio conseguiu atravessar esse período sem grandes prejuízos.

Sim, o ano não teve grandes prejuízos técnicos. Diferente de 2021, quando o maior deles veio: a queda para a Série B. E naquela temporada, o Grêmio não enfrentou uma enchente, mas sim uma crise interna profunda. Sem Renato, o clube passou por uma sequência de técnicos — Felipão, Tiago Nunes e Vagner Mancini —, mas ninguém conseguiu evitar o rebaixamento.

Em 2024, porém, a história foi outra. Renato Portaluppi trouxe estabilidade. Mesmo que o time não tenha sido competitivo como em outros anos, sua liderança foi fundamental para evitar o pior. Ele prometeu, pós enchente, que o Grêmio não cairia — e cumpriu.

Ainda assim, a temporada de Renato esteve longe de ser brilhante. Demonstrou cansaço, teimosia e dificuldade em extrair o melhor dos atletas. Suas entrevistas refletiram esse desgaste. Mas, ao contrário de 2021, ele entregou o mínimo: manteve o Grêmio na elite. Outros não fizeram isso.

Concordo que, para 2025, a saída de Renato é justa. Esse ciclo parece ter chegado ao fim. No entanto, é fundamental que o Grêmio encontre líderes capazes de, nos momentos de dificuldade, chamarem a responsabilidade e não deixarem o pior acontecer. A lição que fica é clara: liderança forte é indispensável, especialmente em tempos de crise.

Agora, com dois jogos restantes, o Grêmio busca uma vaga na Copa Sul-Americana e já começa a planejar 2025, um ano que promete ser de reconstrução, mas com a necessidade de líderes que saibam carregar o clube nos ombros quando for preciso.

César Augusto Saadi
Jornalista Esportivo



UM DESAFIO SOLITÁRIO

Sexta-feira, 22/11/2024, 18h11min - Foto: Divulgação
UM DESAFIO SOLITÁRIO

Acompanhar o Grêmio à distância é oscilar entre a saudade e o tormento. Aqui em Amsterdam, as manhãs geladas de inverno começam mais animadas em dia de jogo. A expectativa cresce ao longo da semana — mesmo em dias de neve, com temperaturas abaixo de zero e a correria da vida de imigrante. Mas, quando o árbitro apita, o que deveria ser um momento de alívio vira um martírio.

E é curioso observar isso. Para quem vai à Arena, ainda há algo que ameniza a dor: a experiência do jogo em si. O pré-jogo, a viagem de quem vem do interior, as resenhas com amigos, o churrasco no entorno do estádio, a festa da Geral, a caminhada até a esplanada — tudo isso nos preenche como gremistas. Mesmo quando o time joga mal, há um certo consolo em estar ao lado de outros 40 mil dividindo alegrias e frustrações.

Mas, à distância, assistir ao Grêmio é um desafio solitário. Não estou aqui querendo fazer uma competição de quem sofre mais ou menos, longe disso, porque a dor do gremista é a mesma. Estamos todos no mesmo barco. Mas é uma melancolia olhar para a tela, num cômodo vazio, geralmente na madrugada europeia, esperando que o Grêmio respire. E o que vem é mais uma dose de frustração. Cada lance errado do Reinaldo provoca uma raiva quase automática; cada tentativa de construção de jogada parece, na tela, não fazer sentido algum. O Grêmio joga mal, e qualquer adversário que põe os pés na Arena parece ser o dono da nossa casa.

E no banco está Renato, o maior ídolo da nossa história, passando pelo seu pior momento como técnico do clube. Nem as vírgulas da enchente justificam o quanto este ano foi pavoroso. Até nas expressões faciais negativas do Renato dá para enxergar a nossa própria preocupação refletida: ele parece tão perdido quanto nós.

Agora restam mais uns dias de angústia até o próximo jogo, com aquela fé da imortalidade (palavra que parece ter perdido um pouco o sentido nesta temporada) que todo gremista carrega — de que, no próximo, tudo pode ser diferente. É uma espera cruel, como se fôssemos personagens trágicos sempre à beira de um novo desfecho infeliz.

Que esse pesadelo acabe. Que venham os pontos matemáticos. Que esse ano de agonia finalmente termine e nos permita respirar de novo, juntos, como Grêmio.

César Augusto Saadi
Jornalista Esportivo



PELO GRÊMIO, SEMPRE!

Domingo, 17/11/2024, 11h11min - Foto: Divulgação
PELO GRÊMIO, SEMPRE!

Como gremista e jornalista, sempre gostei de escrever sobre o Grêmio exaltando nossas
conquistas ou discutindo aquela escalação ideal, com todas as justificativas que só um
torcedor apaixonado entende. Queria muito que minha coluna de estreia fosse sobre
momentos de glória, sobre aquele Grêmio que me enche de orgulho ao ostentar essas três
cores pelo mundo. Mas, neste momento, o contexto é outro: precisamos vencer uma decisão
para escapar do rebaixamento.

De onde estou – aqui em Amsterdam, longe da Arena e da nossa gente –, percebo a dimensão
do que uma possível queda representaria. Lembro de 2021, quando o Grêmio desceu para a
Série B. Eu estava em Londres, e era difícil, do outro lado do Atlântico, explicar a situação aos
europeus, que sempre perguntavam: “Como um clube gigante como o Grêmio está passando
por isso?” – uma pergunta que me perseguiu e dói ainda mais quando penso em tudo o que
nossa camisa representa.

Hoje, o Grêmio não carrega apenas a responsabilidade de vencer um jogo; carrega a história
de uma das camisas mais pesadas da América do Sul, de um clube que cresce nos momentos
decisivos. Por isso, agora, com o perdão do clichê, precisamos estar juntos. As críticas
deixamos para quando o risco de queda estiver afastado. Não importa se estou aqui na
Europa, ou se você, que me lê, está em Porto Alegre, Caxias, ou em qualquer outra parte do
mundo. Essa é a hora de empurrar o nosso tricolor. Acredito que um ambiente positivo pode
realmente fazer a diferença.

Após o jogo contra o Juventude, ainda restarão quatro rodadas, mas, com uma vitória, a
pressão será menor. Quem sabe, então, eu possa escrever uma coluna mais leve, sobre a
comissão técnica, a direção e nossos atletas. Até lá, seguimos juntos – pelo Grêmio, sempre!

César Augusto Saadi
Jornalista Esportivo



Cesar Saadi
Jornalista esportivo, gaúcho e gremista, atualmente baseado em Amsterdam, na Holanda. Com a vivência de quem acompanha o futebol na Europa, ele traz suas opiniões e análises com o olhar de um gremista que carrega a camisa tricolor em cada viagem.

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